quinta-feira, 12 de junho de 2008

O País dos Castelos

O seguinte artigo, escrevi-o em finais de 2006 para a "Publituris", e foi publicado no dia de 8 de Dezembro daquele mesmo ano.
O artigo já é velhinho e até um bocadinho desactualizado mas porque amanha celebramos o 120 aniversario do nascimento do Mestre e devido a alusao que a ele se fazia, vale a pena que aqui fique, no nosso blog ... "for the record".

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Descobri no portal do XVII Governo Constitucional uma parte da reprodução de um dos trabalhos mais conhecidos de Almada Negreiros: uma imagem-quase-simbolo na literatura Portuguesa.

Daí, a passar ao primeiro poema de um livro intitulado “Mensagem” foi um pequeno passo.
Esse maravilhoso “O dos Castelos” sempre nos fez sonhar com essas paragens longínquas e misteriosas e deu-nos uma mais real ideia da proporção do Mundo. Tão pequeno, afinal.

“A Europa jaz, posta nos cotovelos:
De Oriente a Ocidente jaz, fitando,
E toldam-lhe românticos cabelos
Olhos gregos, lembrando.

O cotovelo esquerdo é recuado;
O direito é em ângulo disposto.
Aquele diz Itália onde é pousado;
Este diz Inglaterra onde, afastado,
A mão sustenta, em que se apoia o rosto.

Fita, com olhar 'sfíngico e fatal,
O Ocidente, futuro do passado.
O rosto com que fita é Portugal.”

Duvido que Fernando Pessoa estivesse a pensar em Hotéis ou Agencias de Viagem quando escreveu estas inspiradas linhas, mas hoje, daqui a pouco, quase 1 século depois, quando o lemos e damos asas a imaginação, bem podíamos fazer dele uma fonte de inspiração a um dos enormes potenciais no nosso país: o Turismo.
Consideremos o seguinte:
a) visitam Portugal mais de 10 milhões de turistas estrangeiros cada ano;
b) hoje em dia o sector representa mais de uma décima parte dos empregos e quase 15% do Produto Interno Bruto;
c) a tendência dos últimos 20 e tantos anos é a de contínuo crescimento do sector;
d) poucos países no Mundo inteiro têm a sorte de possuir uma tal feliz combinação de factores: localização geográfica, de fácil acesso de qualquer parte do Mundo, clima e sol de fazer inveja a qualquer, maravilhosas praias, serras, ilhas e paisagens, história, vinho, queijo, musica, tradição, gastronomia, arte e sobretudo um Povo, uma gente com um sentido hospitaleiro já quase em vias de extinção.

Não me parece, pois, difícil perceber que esta “indústria” é incontornável e ver-nos-íamos muito ingénuos se não preparássemos agora este futuro de forma sólida e com a máxima qualidade.

Investir em todos os aspectos que ajudem a melhorar a competitividade turística do País em relação a outros destinos e defender ferozmente o “Turismo de Natureza” são a meu ver prioridades que temos que acelerar e consolidar. (Egressado da Escola de Hotelaria e Turismo do Porto) Em 1989 comecei a trabalhar para uma empresa multi-nacional (na altura ITT Sheraton, hoje Starwood Hotels & Resorts) e em 1993 deixei Portugal. Depois de vários destinos exóticos estou hoje a escrever este artigo desde a longínqua ilha de Bora Bora onde dirijo o hotel Bora Bora Nui desde 2004. Devido a este distanciamento físico, confesso a minha ignorância sobre a situação em Portugal e desconheço quem é o Ministro ou o Ministério que tem a seu cargo a área de acção do Turismo; mas não quero deixar de aproveitar este espaço para enviar-lhe uma palavra de força e de animo pois posso afirmar hoje, depois de 15 anos de conversas diárias com turistas de todo o Mundo, que o nosso Pais é um dos que mais interesse desperta em visitar.

Pelo que li do programa do actual Governo, pareceu-me que as linhas mestras estão lá todas. Agora só falta pô-las em prática de uma forma irreversível. Será uma tarefa difícil, mas acredito que dará os seus frutos num prazo mais ou menos curto se forem executadas com rigor e baixo uma liderança firme e objectiva.

As acções de Marketing, incluindo o cinema de qualidade, a aposta no desenvolvimento de infra-estruturas turísticas ao mais alto nível mundial, a contínua melhoria dos transportes e o serio compromisso com a formação serão essenciais para fazer de Portugal um expoente máximo internacional nos destinos turísticos mais procurados dos próximos 20 anos.

E enfim, tantos anos passados depois de escrito o poema, é com orgulho que mantenho a esperança se torne realidade, que o rosto que fita o Turismo Mundial seja, na Europa, Portugal.
Rui

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