quinta-feira, 12 de junho de 2008

A amiguinha do tareco da mulher do ministro

por António Moniz Palme*

[O Primeiro de Janeiro, 12 de Junho de 2008]

Cá em Portugal, os políticos costumam tentar apoderar-se do trabalho dos antecedentes, preocupando-se com o que bem funciona, em vez de deitar a mão ao que está escandalosamente mal. Sempre foi assim e sempre assim será. Tentam camuflar a incompetência, chamando a atenção para o que rola sem acidentes de percurso e virando as costas ao que mal funciona, pelo facto de não terem qualquer solução para os problemas que tinham a obrigação de resolver.

A Escola de Hotelaria e Turismo do Porto, fundada por despacho de 19 de Dezembro de 1968 do então Secretário de Estado de Informação e Turismo, foi o primeiro estabelecimento de ensino, na actividade de turismo, no Norte do País e constituiu um pleno sucesso no plano profissional, bem como na formação atendendo à grande procura dos seus alunos no mercado de trabalho da hotelaria e da restauração. Os problemas criados a diversos estabelecimentos de ensino, após o 25 de Abril, não tiveram qualquer repercussão na Escola do Porto e na respectiva direcção chefiada por Luís Garcia Contente, o mesmo acontecendo com as várias mudanças incrementadas pelas diferentes actuações partidárias que através dos anos a têm tutelado. Na verdade, a Escola do Porto prosseguiu os planos e os programas estabelecidos pelos seus quadros técnicos, o que lhe granjeou o respeito de todas as escolas de formação turística da Europa, incluindo as sofisticadas escolas da Suíça. Além do mais, os seus discentes começaram a ganhar anualmente os prémios internacionais atribuídos aos melhores alunos das escolas de hotelaria e turismo europeias. Como prémio do seu alto nível de ensino, foi nela criada, em 1976, o Curso de Gestão e Técnica Hoteleira e, mais tarde, em 1982, o Curso de Técnicos de Empresa e Actividades Turísticas, ambos com a duração de três anos.

Em 3 de Junho 1985 foi atribuída ao seu director, Luís Garcia Contente, pelo Secretário de Estádio de Turismo, a Medalha de Mérito Turístico e, igualmente, foi a Escola de Hotelaria e Turismo do Porto considerada membro da Associação Europeia das Escolas de Hotelaria e Turismo. De quando em vez, porém, existem tentativas para dar cabo da mesma. Na verdade, foi criado um curso de gestão no Estoril, idêntico ao do Porto, que foi um autêntico fracasso, não tendo os seus alunos a mesma aceitação no mercado do trabalho comparativamente à procura dos alunos saídos do Porto. Em vez de melhorarem a Escola do Estoril, para ser ultrapassada tal situação, os responsáveis acabaram com o curso de gestão e de técnica de hotelaria da Escola do Porto, para acabar com a concorrência, perante a indignação de alunos e professores, de autarcas e industriais nortenhos, e perante a passividade de alguns responsáveis políticos do Porto, como foi o caso do então presidente da Câmara Fernando Gomes. Mas a Escola de Hotelaria do Porto bem depressa se recompôs e os seus cursos continuaram a ter enorme êxito, devido à alta preparação dos seus alunos. A direcção da Escola actualmente já é formada por licenciados que saíram dos cursos da Escola de Hotelaria do Porto, conhecendo bem as necessidades do turismo, da hotelaria e da restauração do país. O seu grupo de docentes tem um enorme espírito de equipa e de sacrifício, conseguindo que o nível do ensino seja exemplar e continue a ser admirado pelos responsáveis dos estabelecimentos de hotelaria. Simplesmente, o poder político assim não pensa e viu a Escola de Hotelaria do Porto como um bom local para empregar os seus apaniguados desempregados. E afirma-se tal, pois o espanto dos professores e amigos da Escola de Hotelaria foi enorme quando tiveram conhecimento que o seu excelente director, Dr. Paulo Vaz, teria sido afastado das funções que exercia de director, para ir desempenhar uma nova situação, sendo substituído o seu lugar por uma nova directora sem qualquer tipo de experiência e sem o mínimo de conhecimentos. A direcção da Escola era constituída por técnicos formados na própria Escola, que sempre deram provas excelentes, e possuem conhecimentos pedagógicos e técnicos efectivos, merecendo o respeito dos diversos operadores das actividades relacionadas com o turismo, sendo produtos nascidos da formação com a matriz de Garcia Contente, que marcou significativamente o ensino nas escolas de hotelaria. Porém, talvez esta seja uma nova modalidade de dar cabo da Escola de Hotelaria e Turismo do Porto.

O antigo professor desde a fundação da Escola de Hotelaria, Dr. António Tavares, homem que tudo deu à constituição e crescimento da Escola do Porto, nem queria acreditar que tal fosse possível. E tem toda a razão, pois com Ele solidarizaram-se todas as pessoas sérias ligadas à Escola de Hotelaria e Turismo do Porto. Fazendo coro nas preocupações resultantes da nomeação de uma nova directora sem qualquer tipo de experiência num estabelecimento de ensino profissional cuja remodelação de estratégias é permanente e imprescindível para dar resposta dinâmica às necessidades da actividade. Esta é uma falta grave e imperdoável. Ultrapassou-se o que era tolerável. È demais. Naturalmente, a nova directora é amiga de peito do tareco da mulher de algum daqueles ministros brilhantes que ornamentam o actual governo. O cidadão comum, atendendo ao panorama com que é confrontado, tem o direito de assim presumir...!

*Advogado

[O Primeiro de Janeiro, 12 de Junho de 2008]

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